POESIA DE
RECICLAGEM
Luis Carlos
de Morais Junior
POESIA DE RECICLAGEM
POESIA TIRADA DO LIXO
O LIXO É REAPROVEITÁVEL
POESIA TIRADA DO LIXO
O LIXO É REAPROVEITÁVEL
Prefácio
O título deste
livro iria ser Nenhuma Poesia, que é
replicante: Carlos Drummond de Andrade estreou em 1930 com Alguma Poesia; em 1980, é publicada a reunião de poemas de Ferreira
Gullar Toda Poesia, mesmo nome pelo
qual é lançada a coletânea de poemas de Paulo Leminski, em 2013.
Mas descobri dois
outros livros com o mesmo título que eu iria adotar. Então renomeei o livro com
este, que seria seu título original.
Poesia de Reciclagem significa “pura
poesia”, “poesia em estado bruto”, “poesia na veia”, como o leitor já deve ter
compreendido.
Marca os dez anos
da minha estreia em livro, com os volumes Larápio
(que traz prefácio de Jorge Mautner) e Pindorama
(com a pintura “Bandolim em tarde tropical”, de Mautner, na capa), ambos de
2004.
Comecei a fazer
poesias em 1965, com 4 anos de idade, mas não tenho essas guardadas. Lembro que
iniciei e continuei um caderno de poemas, sendo um deles uma ode ao Amazonas.
Meu primeiro poema
publicado foi num jornal dos alunos da Faculdade de Letras da UFRJ chamado Lente de Contato, em 1980; é um soneto
ainda inédito em livro (o de número XIX do meu livro de Sonetos):
Ardo de inveja
dele, e assim, eu ardo
Por invejar o amo e senhor do dia
Em que aliviada perderás o fardo
Chamado então pureza, ou poesia.
Quisera eu que fosse eu teu antibardo
O dono pleno de teu meio-dia
– Pensando neste ciumento eu ardo
– Pensando em ti, me toma a gelosia.
Casasses tu comigo!!! Na janela,
Poria a rótula por proteção
Contra olhares ciumentos, invejosos...
À porta vossa – ah!, vou passar por ela
Pra comungar, ao menos com a visão,
Por invejar o amo e senhor do dia
Em que aliviada perderás o fardo
Chamado então pureza, ou poesia.
Quisera eu que fosse eu teu antibardo
O dono pleno de teu meio-dia
– Pensando neste ciumento eu ardo
– Pensando em ti, me toma a gelosia.
Casasses tu comigo!!! Na janela,
Poria a rótula por proteção
Contra olhares ciumentos, invejosos...
À porta vossa – ah!, vou passar por ela
Pra comungar, ao menos com a visão,
Com o amor sem
gelosias dos ditosos.
Pode-se ver que
já nesse começo eu me declarava o que sou, para a poesia do país e do mundo, e
é tão fecundo isso, eu acho: o antibardo, o antipoeta, aquele que consegue
fazer a língua falar a força da antipoesia.
Manifesto da
reciclagem: por uma antiarte poética
A “antiarte” é um
referencial de grande significação na história das vanguardas que instauraram,
desde inícios do século XX, a renovação da “arte moderna”. Na atualidade, em
pleno “pós-modernismo”, Luis Carlos de Morais Junior reinveste essa proposta de
desconstrução dos cânones que impedem ao fenômeno estético, pelo compromisso
com a forma pré-estabelecida, ser plena expressão.
Ao invés de uma
total ruptura com o que emergiu de revolucionário no modernismo, assim a
pós-modernidade é recuperação do que foi obnubilado pelos recobrimentos
academicistas daqueles saudáveis impulsos. Entre a colagem “dadá” e o “neodadá”
pop, a linguagem da produção estética
se auto-radiografa para mostrar como é feita, não de regras de estilo, mas dos
fragmentos de sentido coados pela pluralidade dos meios e práticas culturais em
que transita a vida comum e se faz a história efetiva.
O engajamento é
imediato e ativo. Se a “arte” seria a norma, a “antiarte” é insurgência.
Doravante, é o canal de depuração dos direcionamentos discursivos para
constituir-se a denúncia e a revelação na captação mostrada do que tem livre
curso no cotidiano.
A “reciclagem” é
exatamente essa captação, em que, na originalidade dos seus recursos próprios
de expressão linguística, Luis Carlos lança a poesia nos caminhos sempre
renovadores dos ready-mades de Marcel
Duchamp. De fato, na era do signo, o que há para constatar é que tudo é
já-feito, mas assim cabe a esse operante do efeito, que é o investimento
estético, auto-analisar-se como lugar da reprodução do sentido veiculado como
dado, para baralhar as cartas do pré-significado condicionante e reordenar os
resultados. Este lugar é pois o da liberdade.
Eliane Colchete
Introitus
Dentro do ônibus
no sacolejo
é tudo ótimo, ótico,
atônito
e hipnótico
que eu vejo.
Esta cidade é algo sólido
que viceja no limbo,
fogo limpo que salgo
com algas vermelhas, belas
estrelas amarelas
e árvore-cachimbo
que foi o lago a que vim
enquanto andava a pé.
Se Castro Alves estivesse
neste deserto pleno, até
ele faria essa messe
de massa, lixo etc., aqui,
logo.
Profissão de Fé
Tantas ideias legais que já tive
e depois apareceram noutro lugar
realizadas como um declive
do espírito que dança sem parar;
por outro lado, mesmo eu sinto que tudo
que digo e falo e escrevo e principalmente penso
vem de algum lugar do tempo desnudo
sempre pulsando e passando em suspenso;
e ainda, vimos ver que todos os discursos
são pedaços de outros se assim
ao infinito imbricam-se os percursos
numa abertura floral jardim.
(Parte
II)
Então busco parceiros
no imediato contínuo espaço-tempo
e também nas dobras do tempo
faço dos átomos tão bem meus parceiros.
Estes textos são oriundos do lixo dos séculos
que está à sua volta sem querer
e também do tesouro que se acumula há séculos
no nosso querer,
sem nenhuma contradição no fato
de que escrevo fragmentos que se montam de novo
a cada instante a cada montante a cada pulo do fato
que por mais vívido que seja, e é, é sempre novo.
Vi um bicho no lixo
comendo coisas meio boas que esqueceram ou não;
olhei com olhar fixo o bicho
pensando que poderia ser alguma ilusão;
mas não, o bicho é real,
ele come tudo que vê se está no ponto
e sai montando o resto como tal
ou qual poeta o verso eu mesmo monto,
e não cansa e não tem medo nem pena e nem fome
o bicho pensa come tudo o que quer e quer muito e faz
outras coisas com a energia que consome
e que ressurge nas criações de que é capaz.
E é capaz.
Eles pensam que vício é seriedade
Porque se entorpecem com ciência
Não sem medo e aparência mas maldade
É o que não falta pros guardiões das chaves do poder
Que quer dizer estatuto e propriedade
E também a decência da evidência
Eles não têm clemência nem verdade
Eles só fabricam medo de si mesmo e do querer
Eles só querem ser o que é querência
E ânsia e fichas e visões da precariedade
Eles rimam o mal com a sociedade e falência
É tudo que eles produzem nas fábricas desta sócio cidade
Eles são muito escrotos são coisas imundas e ainda assim são parte do ser
Visão
No sacolejo do coletivo
dormi porque vinha descansado do trabalho
– já que não dei aulas pelo motivo
de que hoje é um dia comum – malho
em ferro frio e mesmo assim me agrada
mas isso é outra questão –
vinha eu dormindo, sonhando com a fada
ou menina boa da estação
e ela me mostrou um livro escrito por mim no computador
cuja primeira página dizia Poesia de Reciclagem e o resto;
acordei cheio de alegria e amor
e anotei os dizeres da visão, num claro gesto.
Brand new news
Os Pankecas arrumaram um carro de ouro
Alex e Emma estão escrevendo um romance
Charles adotou um garoto esperto
Mazzaropi canta as moças na beira da piscina
Pacífico está morando com as irmãs de novo
Didi Mocó Sonrisepe Colesterol vai bem
O Costinha entrou prà Academia
E o Zé Trindade está esperando nenen
O Chapolin é pequeno e valente
O Chaves dorme dentro do barril
O senhor Pickwick viaja pelo país
Assim como Alonso Quixano, e é feliz
Os Três Patetas vão salvar seu orfanato
Do mesmo jeito que os Blues Brothers fizeram
Zé Carioca arranjou um som maneiro
E o Tio Patinhas investiu algo no meio
Os Trapalhões trabalham no circo
Paulo e Monarco vão comer macarronada
Os Três Malandros cantaram no Municipal
E Scooby-Doo com seu grupo descobrem tudo
O Hugo Carvana resolveu arrumar um trampo
E a Elke Maravilha adorou participar
Do Cassino e da Buzina do Chacrinha
As coisas estão sempre a borbulhar
E a Penépole Charmosa está na minha
Tele-mensagem
Tem lixo que vem da TV
Como a comediante que imita
Uma adolescente na escola
E que conta todas as coisas
Recheando os detalhes e falas
Com “não sei o quê, não sei que lá,
Não sei o quê...”
Agora desde garis
Até doutores e juízes
Passando pelos vendilhões do tempo
E os aprendizes do demo
Estão todos economizando
Suas palavras e seu tempo
Substituindo longas partes do discurso por fazer
{E que não têm coordenação lógica
Nem repertório para fazer} por
“Não sei o quê, não sei que lá, não sei o quê...”
A cantilena termina com cara de imbecil e boca aberta
Grana
O dinheiro é luxo
Mesmo quando é preciso usar
Um pedaço de papel sujo
Pra pagar o jantar
O dinheiro é um uso
De uma civilização de primatas
Que ainda não descobriram os
Raios de sol que alimentam
O dinheiro é um fluxo
É uma ideia fixa
É michê
É capricho
De algum extraterrestre
Num shopping de lixo
Onde compra seus
Contos
Com olhos fixos
Fabricante de lixo
Jogo
os Gêneros no Lixo
Os livros explicam os gêneros
Substantivos ou adjetivos
Lírico, épico e dramático
Estão em todos os textos
Ou os textos estão neles
Aí muito se discute
Também sobre a gradação
De novas formas que surgem
Eu jogo os gêneros no lixo
Porque não acredito mesmo neles
Sejam ideológicos ou biológicos
São sempre uma falsa rede
Que prende quem neles crê
Que cria seu próprio raio
Inventei também o gênero
Poema-lixo, que aqui faço
E isso é bastante óbvio
É tipo filme de sexo explícito
Excita e não dá prazer
A internet é um vício
Que descolore o artifício do estar
Navegando pelos vales do silêncio
O silício que está em sua mente
Humana assim também
Homeomericamente
Se excita ao máximo e toma um tóxico
As toxinas das bobagens e das informações
Obtidas sejam elas vãs ou não
Sempre sem ter um sim ou um cão no seu vão
De entre edifícios do existente e do
Fabrico
O Rato no Lixo
Hoje eu vi um rato no lixo
Era um bicho bonito
Era grande e brilhava
Um verdadeiro ser
Andando na selva
Dos homens dos objetos que lançam
Pelo meio dos edifícios
Quando eu vi aquilo
Senti amor
Senti que o meu amor
Não para de crescer
É um universo simples
Feito de todos os artifícios e substâncias químicas
É um torpedo explosivo um petardo um míssil um projétil
Que Eros lançou e se cravou no meu início
No meu meio no meu fim no ser eterno
E terno que tenho como a miss universo
E tanto quanto aquela ratazana
Que ama e foi amada e por isso nasceu
Meu filho meu futuro meu passado e o meu presente
Pro mundo
A
Juventude é um Vício
Ou poderia dizer tb que é um vico
Vinco de recirculação
Ou um circulador de ar
Inócuo e ineficaz no verão
Quer vc então vc pode perguntar
Dizer que ela tão ouro puro é lixo
Onde está sua razão e/ou
Sua emoção ou vc está rancoroso
Com a juventude boa que povoa
Os pés do bicho sem fim do sistema
(“Eis-me prostrado a vossos peses
Que sendo tantos todo plural é pouco”)
E da comunicação
Não
Eu quero é dizer que tudo é isto
E aquilo também que no ovo há o voo
O vácuo e o ar e na nave estelar
Há o pé e o chão e a seta e a mão
E o cavalo e o balão
E o verso e o vão
Poesia
é Lixo
A poesia é um exercício
Para lá de factício
E se eu faço
Tudo isso
É por prazer
Pelo paladar
A poesia cai dos morros
Das encostas dos barrancos
Quando chove na cidade
E não dá pra segurar
A chuva vem traz o lixo
De um outro precipício
Os edifícios se exaltam
Começam todos a andar
E tudo roda pelo alto
E de baixo a cima e fogo
Sobre e desce como um
Raio
Um relâmpago fulgurante
Cheiro de pólvora no ar
E a poesia em toda parte
Toda vez que eu fico assim crivado
De todo lado e olho fixo pro quanta
Do espaço do meu lado do outro tanto
Que quero esse minuto assim pra sempre
Eu seu que sou cretino crápula e carente
Um crente no destino e no estilo
Que encontro no meu meio eu sei eu sou
Seu porque acredito no ácido ser
Que é essa paixão
Sem seu porquê
Seu sem querer
Barata
Mulher
Você é um barato
É gostosa demais
Mas
Eu não sou pechincheiro
Eu não sou um beato
Ou um besta ou banal
Você faz bem faz mal
Dependendo da hora
Eu ouvi seu boato
Eu saquei sua tara
Eu não quero você
Porque você é barata
E de inseto eu estou cheio
O meu amor é um veio
Que pulsa para sempre
Meu amor não é barato
Não é lixo nem veio
Pra você desprezar
O meu amor é amar
Isso você não conhece
Brasil
no Lixo
(Isso poderia ser evitado
Milhões de criaturas pelos lados
Um monte de lixão por toda parte
As moscas já não sabem o que mordem
Tem baratas e ratos e tatus
Percevejos e muita muriçoca
Todos dizem você vá se catar
Ninguém mais tem paciência ou grana ou toca
Tudo está assim debaixo de uma ponte
Ou viaduto que há muito já caiu
Todos vão prà ponte que partiu
Que os nazistas do norte roubam tudo
Sugam chupam todo mundo periférico
Eles vêm pagar crianças de oito e sete anos
Eles são limpos são seres humanos)
O
Ocidente é o Lixo do Mundo
Vocês devem saber
Nunca existiu democracia.
O que se chama hoje assim
É uma grande tirania
A tirania da covardia
Da vilania
Da covardia em suas duas faces
A do truculento violento que impõe
Suas coisas baseado em sua força
E na fraqueza do outro
E a do fraco que se encolhe
Se arrasta e se esconde e engole tudo
Mudo
Porque não tem coragem de mudar
A situação insuportável
Veja as revistas e jornais
E sua pretensa objetividade
O seu pretenso jornalismo
Que não é jornalismo nem nada
Tudo ali é matéria paga
Tudo ali é se agachar ao poder central
O totalitarismo domina o mundo ocidental
De uma forma cínica e violenta
Como nunca antes houve no mundo
Nem há paralelo em outros mundos
Claro que tem seus lados bons
O lixo tem suas riquezas
É possível torná-lo uma outra coisa
E até fazer dele uma boa fonte de recursos naturais renováveis
Veja bem o lixo é o ocidente
Foi ele que o inventou
Mas veja melhor o lixo é reciclável
É a saída que temos
Abdicar de nossa arrogância
Abrir os canais para outras fontes
De informação e poder
E reciclar o lixo do mundo
POEMÁQUINA
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzumbido
ou vem de uma planta rara ou vem do meio da rua ou vem de um instrumento
metálico ou vem de uma pedra roçando na outra ou vem de uma abelha um besouro
um inseto que morde o som ou vem de um roedor escondido num canto num vão do
quarto ou então é uma máquina ligada a noite toda emitindo esse ruído que já
nem se percebido mas é inserido no sonho da planta do inseto do animal e do
homem que dorme e ronca máquina de dormir muito mais ainda máquina de sonhar
que pensar que é uma máquina de ferir e pensa que é uma máquina de acordar e
trabalhar e sair e entrar e subir e baixar e fazer e acontecer mas é mais uma
máquina de sonhar por isso ele faz coisas gira os botões dos móveis
eletrodomésticos aciona os controles engata os plugs enfia os fios e conecta
uns com os outros pra ouvir um som um zumbido estranho que vem do rádio do
tocacd dvd computador televisão e ele fica assim de olhos abertos sonhando
esperando pela próxima atração dos séculos que será a atração mais que
magnética fixação fricção ficção fabulação real de sua vida em si expandida não
quero dizer que seja tudo igual na verdade é tudo diferente mas há um som um
zoom um zumzumzum um que vem de um e vem de outro e fazem um barulho composto
uma harmonia dissonante e super-harmônica de sons vitais alguns vindos do caos
da paz alguns vindos das naus outros do cais alguns vindos do lado outros de
trás alguns vindos dos vivos outros das máquinas e como já dizia a máquina
siamesa deleuze-guattari as máquinas só funcionam avariadas e como já sabia o
papa alquimista cujo nome não quero me lembrar e newton e leibniz e descartes
que eram chegados num robozinho numa informática e até aristóteles que em seus
textos já fala nos autômatos e espinosa é claro é o que eu falo tudo é máquina
palavra máquina que agencia uma imagem máquina que financia um novo mundo
máquina ou um velho mundo máquina qualquer alternativa é assim e maquina uma
nova chave para a usina de fabricar naves e espaços de ar de terra e água e fogo
e quintessência onde possa navegar ora era uma cigarra que superou todas as
taras e as caras da cidade baratas e todos os ratos de rastros pelo chão ora
era uma cantora que cantava pela madrugada e acordava a verdade a realidade e o
tesão eu vi eu vi eu vi meninos eu vi tudo isso posso contar pra vocês era uma
cigarra que rasgava a madrugada não era mais nada nem ferro nem máquina nem
vidro cerrada nem bomba do lado nem arma engatilhada bem que eu senti medo e
pensei em coisas preparadas ou pela polícia ou pela malandragem pensei que tudo
não passava de uma coisa preparada mas não era nada era a madrugada era a coisa
pronta a coisa estruturada era o que é ainda e será pra sempre era o que será
era foi e sendo é era a cigarra que cantava a vida é a vida que canta a cigarra
eu sei eu não fiz nada fiquei ali do lado deitado calado mudo pensando em quase
tudo e vivendo tudo e vendo vendo tudo ouvindo ouvindo ouvindo tudo tudo tudo
tudo tudo tudo a cigarra fazia seu ruído genuíno seu ruído divino seu ruído de
máquina e eu assim fiquei pela madrugada eu sabia o que era e é agora eu posso
me alertar despertar alerta e sair prà luz do espaço aberto no meio do caos na
cidade aberta no meio do nada era uma cigarra sempre será isto uma cigarra é o
que isto é esse som esse zoom do boom do bom do bem bom então esse panteon uma
cigarra que
fazzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
américa
A música do Herbert Viana com Carlinhos Brown
Cantada pelo primeiro com Djavan
Me comove sem parar
Pelos mundos em que ainda vou estar me comove e me faz cônscio como um
Cabral
Que descobriu o Brasil dos teus olhos cristalinos cheios de mel e mal
teus olhos tão meus estes olhos teus esses olhos cínicos de vidro e tímidos
talismãs ímã da tarde que se faz meu fã no seu afã
E já que estou falando em música e em descobrimento
Do fato de que descobri você quando abri a bilionésima lata de arrebol
Eu quero esclarecer
Que o que sinto é santo é sensato e louco porque é cimento e bomba e faz
um gesto e quem faz um cesto faz um cento
Ou um número infinito dos outros sentimentos estão dentro também
Os Beatles enlouqueciam a Inglaterra mas não comoviam nem um pouco ou
moviam os Estados Unidos
Um belo dia sua canção eu quero pegar sua mão e ela ama você tenho braços
pra te abraçar e lábios pra te beijar bem algo assim os fez os primeiros das
paradas e movimentos e bocas de sucesso de entradas
E bandeiras
De cantar encantar e correr pelos pelos como eletricidade muita e pouca
E aí eles foram deslumbrar os norte-americanos quer dizer vieram ou foram
sei lá
E quando voltaram um repórter perguntou a um deles
E é difícil dizer qual usavam todos eles os mesmos terninhos de reis do
iê-iê-iê e os mesmos cabelos tocas capacetes de loucas que pareciam perucas de
peruas ou machos louros morenos
Eram mesmo lindos você deve se lembrar daquele tempo
E todos eles respondiam rápido e ferinos tinham a palavra fácil e frágil
como um disco voador de plástico
E a inteligência viva dos meninos dos saltimbancos de praça dos bêbados
sem medo de nada ou de ninguém e dos s/z
Um repórter perguntou:
– How did you find
America?
Que em vernáculo quer assim dizer:
– O que você achou da América?
E que também pode ser compreendido:
– Como vocês encontraram a América?
E um deles
O John
O George
O Paul
O Ringo
(Ou eu)
(Eu sou o quinto Beatle)
Eu não sei bem
Eram todos tão parecidos
No tom e na altura do seu quem
No seu tom
Quem falou
Falou assim:
– Foi só dobrar à esquerda na Groelândia.
E foi aí que eu soube várias coisas:
Tipo: achar é descobrir e olhar pela primeira vez
Cada um precisa descobrir a sua América
Foram os Beatles que descobriram a América
A coisa mais revolucionária do mundo é descobrir a América
E eu descobri a América
Quando vi o quanto gosto de você
Nosso
O tempo é um novelo que envolve
O nosso amor que vive e alimenta
Os nossos dias e noites sempre novos
E cheios de feliz contentamento
Você é minha mulher minha querida
E eu quero sempre estar ao seu lado
Por toda a nossa linda e louca vida
Ser seu marido, amigo e namorado
Quero dizer que a poesia está
Aqui em nosso afago e afã diário
E onde você está é o meu lar
Meu amor, Lia, feliz aniversário
v uma le
tra que traz
e girafas
garrafas feitas de fitas
fios
fiozinho d’água
pelas montanhas geladas
escorrendo
como se nem quisesse
mas quer
no meio dos gelos
vira um corguinho
faz seu caminho
e vai seguindo
sempre em frente
lá longe a selva
uma densa floresta
tropical
e o riacho
vai se encorpando
vai galopando
salta nas pedras
igual igual
depois é rio
e ganha amigos
irmãos intrigas
tantas ajudas
e forças outras
pelo caminho
agora obra
o seu caminho
é uma cobra
grande da mata
cerrada
é uma estrada
gigante de água
e nem se sabe
por que que vai
mas ele vai sempre
e segue sempre
e quer somente
chegar ao mar
Ilha deserta
Insulado
Ilhado
Isolado
ao seu lado
seria tudo
menos isolado
seria ensolarado
seria enluarado
e haveria
uma linda melodia
que viria de algum
lugar nenhum
visto que seria uma ilha
uma verdadeira trilha
pro seu olhar
uma nova maravilha
quem diria
nossa ilha
pra ouvir música
e dançar
seja noite ou seja dia
ao léu ao sol
ao luar
ouvindo e vendo e sentindo
as canções que vêm
do mar
Musa-poeta
Então as pessoas são burras
Só olham cabelos e coxas
E não conseguem ver
A grande delicadeza
Mais bonita infinita
Do teu coração de poeta
E de mulher
5 de 4 e 4 de 5
Saia desse quarto
Que não te dá prazer
Ele já está farto
De te aborrecer
Tudo que ele quer te dar
Você pode ver facilmente
Gosta de te alegrar
Quer te ver sorridente
Tudo que ele quer te dar
Você pode ver facilmente
Gosta de te alegrar
Quer te ver sorridente
Se as paredes em número de quatro
Deprimem você assim
Vem brincar, sai do quarto,
Pode acreditar em mim
Minha querida
Vamos passear e ser felizes
O mundo debaixo dos nossos narizes
Minha querida
Vamos passear e ser felizes
O mundo debaixo dos nossos narizes
Nada
Eu não te peço nada,
Não tenho a pretensão.
Mas ficaria feliz, moça adorada,
Se eu pudesse pegar na sua mão.
Mas, se pudesse ouvir a sua voz
E ler o signo, que você tanto
escondeu,
Então eu pediria um presente,
pra nós
Dois, eu e você, mulher, um
beijo seu
Mente aberta no ser
Esse som de plon que gera
esferas e esperas
Está no agora no já no que quer
que seja que
A pessoa pense, ou espere, ou
queira
Esse som é uma água sem fim
Ou assim parece
Riquezas reais: energia arroz
feijão
Ouro que corre pelo chão e papo
a dois
Ou a dez dimensões
A mente entende, mesmo quando
sente
Se estende, é uma semente
E nunca mente
Dialogismo da noite e da manhã
que se
Alternam quando querem conversar
Geram os fenômenos
estratosféricos
E outras feras de nuvens
Fogo e água
Pelo ar
E pela voz
Noigandres
Pontos
Poesia tipo experimenta
Pra ver no que dá uma volta
Pelo pavimento pensando em fazer
Algo ou falar ou supor ou simplesmente propor
Na verdade poesia é uma coisa sagrada
Como tudo na vida a poesia não é coisa alguma
Nada que você possa pegar ou fazer algo com ela
Atualmente a poesia realmente é um reino eficaz
E quem se mete por esse programa que é tipo um hacker
De toda a programação que humana emana e engalana
Sim não sim não sim mas e uma forma aleatória
Bem mais rápida e feita de zilhões de estalos e luzes
Por nano segundos
Esse é o ponto e sobre o ponto os pluviversos
E dentro deles tantos mundos
E o seu mundo
Rolos
Eu me sinto um homem das
cavernas
Por exemplo gosto tanto dos
livros
Justo na época
Em que os livros acabaram
Primeiro todos fazem livros
O que é uma forma de livro não
ser mais livro
Depois eles não leem mais livros
E se sentem livres
Para sempre não ter
Nada a ver com nada
Como posso condenar
Ou reclamar
É seu direito serem tortos
Não serem humanos
Nem quererem saber
Eu fico ouvindo meus rocks dos
anos caretas
Da época em que livro era livro
E ser livre ser livre
Pra valer
Lo
padre de mi padre
Mi
abuelo fue un uruguayo
Mi
bisabuelo era un hombre rico
Un noble de Uruguay
Y su nombre era Morales
Meu avô era um aventureiro
E veio para o Brasil
Se fixou no Rio Grande do Sul
Mas não se fixava em cidade
E mudou seu nome pra Moraes
Meu avô era um aventureiro
E veio para o Brasil
Se fixou no Rio Grande do Sul
Mas não se fixava em cidade
E mudou seu nome pra Moraes
Mi
otro bisabuelo
Lo
abuelo de mi madre
Era
un español que vino a Brasil
Y
quemó sus naves cuando se enamoró
Y se casó con una india guaraní
Ele era louro tinha cinco filhas
E uma longa barba clara
Que as filhas e a esposa
Penteavam por horas e horas
Com muito carinho e amor
Ele era louro tinha cinco filhas
E uma longa barba clara
Que as filhas e a esposa
Penteavam por horas e horas
Com muito carinho e amor
Vitátrons
fazendo de cada fóton uma tela
pra enviar uma mensagem pixels de aspiração
e em cada átomo que dança o samba cósmico
fazer dele uma ponte
um avião uma ponte aérea
ou alguma forma maluca de ir lá
falar com ela
parlez avec moi
pra dizer
a mesma coisa que eu sempre digo
sem sentido porém pólem
com todo o sentimento
e que é um alimento
feito de átomos e luz
e vitátrons
Sem nome
Você que se ri dos outros
Você que não sabe rir
Sem dor
Você prefere covarde
Humilhar quem você acha frágil
E gargalhar das mesmas coisas
Que você acalenta em segredo
Nos castelos do seu degredo
Você é o rei e o senhor
Do seu rancoroso humor
Do seu medo
Imitação
Acham que não sou bom
Escritor homem ser humano ET
Porque não sei descrever
Nem quero
Outros acham que sou bom
Porque enchi milhões de páginas
E pago pra publicá-las
Isso demonstra
Racionalidade obstinação loucura
Tédio como um prédio
E quem faz um prédio merece
Respeito
É algo mensurável, possivelmente vendável
Compreensível
A verdade é que eu sou bomba
Bomba homem, no lugar dos homens-bomba
Bomba-ser humano, que faz a fundo ferver
Bomba ET, nasci nas estrelas e vim
presseplanetinhaídocê$$
E tudo um bomba escritor
Como um doce um éclair de um confeito
De fervor
Funk do poeta poeta
O
que é que eu vou fazer se eu sou querido assim
Ela
anda pela rua rebolando só pra mim
Por
perto de mim deixa cair tudo no chão
Só
pra ver eu pegar e alcançar na sua mão
Já
a outra quer me dar o celular da cachorrinha
Que
está resfriada precisando de caminha
E
tem uma garota gostosona do meu bairro
Que
fica dia e noite no portão da minha casa
Esperando
pela hora de eu chegar de madrugada
Pra
arrastar pro meu lado asa coxa peito e empada
E
toda garota jubilosa da cidade
Quer
só ficar comigo pra ser feliz de verdade
Em
Poa Catarina Curitiba Sampa e Rio
No
maior calor longe de mim fica com frio
Na
Barra no Leblon em Copa no Jardim de Allah
Nos
shoppings nas boates e mesmo em todo lugar
Corredores
culturais do centro desta herdade
Nos
sonhos fantasias virtuais realidades
No
City Bank Hall Barra Music Rio Sul
Via
Show Paris Café Cinemark tudo azul
Nos
bailes nos corsos nos desfiles de escola
De
samba e rock’n’roll elas sempre me dão bola
É
que toda mina interessante da cidade
Quer
só ficar comigo pra ser feliz de verdade
Faces
Chega bem perto a tua face da minha
Unamos nossas bocas
Nossas almas
Nossas vidas
E nossos corações
A verdade é a rainha
Calma ou louca
Sempre é certa
Ela sempre tem razão
E ilumina
Nosso caminho
Com a força
Da paixão
Unamos nossas bocas
Nossas almas
Nossas vidas
E nossos corações
A verdade é a rainha
Calma ou louca
Sempre é certa
Ela sempre tem razão
E ilumina
Nosso caminho
Com a força
Da paixão
Canção do desexílio
No estrangeiro tem dinheiro
Civilização balé
Ópera frio
Chocolate e café
Sentam-se ali artistas
Escritores filósofos
As mulheres são lindas
E o mundo absolutamente
Ilógico
Você pensa que eu queria
Me transmutar pra lá?
Mas
No Brasil tem dinheiro
Civilização balé
Samba funk
Calor e frio
Ópera rádio e tv
Tem chocolate com creme
E cafés nas tardes dormentes
Ali se sentam e discutem
Artistas, pensadores,
Filósofos
E todas as outras gentes
E aqui as mulheres são lindas
Como outras não vi ainda
E o mundo é igualmente
E absolutamente
Ilógico
Medo de avião 2
Qual é mesmo a função da poesia?
Talvez a poesia não tenha
nenhuma
Função. Por exemplo, eu ganharia
Mais da sua atenção, se
escrevesse
No meu dia, pra você, uma linda
Poesia, dizendo que ainda quero
Te encontrar, que eu quero te
falar,
Que a gente é calmaria em alto
mar
E ao mesmo tempo é tempestade
Solar, que enche tudo de
energia?
Hoje em dia, ou daqui a muitas
eras
Meus versos são pra você,
Fada e quimera
Quero quero
Belo belo, minha Bela
Tenho tudo que não quero
Mas eu tenho tudo que quero
Não quero piada preconceituosa
Nem ouvir coisas imbecis
Não quero fotos de comidas
Postadas na página de irrelacionamento
Não quero novelas tacanhas
Nem cançõezinhas nazistas
Tocando na tv o dia inteiro
Não quero milhões de produtos
Venenosos nas comidas industriais
Nem refrigerantes deletérios
Não quero bebidas ruins
Álcoois que envenenam
Nem uma nação de zumbis
Pelo planeta terra vivendo
Belo belo, minha Bela
Tenho tudo que não quero
Mas eu tenho tudo que quero
Eu quero os óculos de Espinosa
Que me fazem ver mais perto
O aroma a cor a flor a rosa
De fogo e o oásis do deserto
Quero os livros o arroz integral
A música sensorial
E a água mais saborosa
Quero chuva e quero sol
E quero olhar os seus olhos
Quero os mestres espirituais
E canções de amor demais
Quero a vida verdadeira
Sem fascismo nem besteira
Quero essa vontade louca
De falar com a sua boca
Pela madrugada sem fim
Quero o seu amor constante
E essa festa elegante
Que é você olhar pra mim
Lei
Sou narigudo – uso óculos fortíssimo
Descabelado hippie – mesmo usando cabelo curto e penteado
Essa chama viva pode dizer que é brasa
Mas só no sentido fake do Brasil
Que veio tanto da cor do carvão
Em chamas quanto o z errado
Dos povos que não sabem soletrar
Brasil vem de Hy Brasil
E significa
Bem, isso todo mundo sabe
O que eles não sabem tão bem
É que existe um morcego gigante
Todo azul
O meu amor por ela
Que esvoaça o tempo todo
Sobre nós
Eu penso nela o tempo todo
Nem sei mais o que fazer
Com s com z
Não sei o que dizer
E se eu disser
Pra ela
Que o que ela pensa que é a tela
A lona a cobertura o dossel
É na verdade a asa direita do morcego
Que tem um olho de fogo
Igual ao sol
E que eu penso nela
Desde que o olho do mamífero voador abre
Até a hora que ele sonha
No farol
Política ambiental
O ser humano é o mesmo
Que o outro ser que ele vê
No que ele chama natureza
Mas que faz parte de si
Uma grande colcha de retalhos
Um grande caminho de atalhos
E a nossa caminhada
Querer só querer não é nada
Querer fazer também não traz
Muito mais
Pro nosso convívio
Querer preservar é fazer
Educar também é querer fazer
Toda vez que a gente fala com orgulho
E alegria
Com outra pessoa o mundo
Se ilumina de esperança
E entendimento
Seja uma criança
Um idoso
Um adulto
Eduquemo-nos uns aos outros
Nos ensinando o que no fundo
Toda criança já traz pro mundo
E só precisa acreditar
Para poder
Querer
Preservar
Obsessão por poesia
Lembra da gente no pátio
Brincando sujos no chão
Debaixo da parreira de uvas
Com mil brinquedos coloridos
Tinha plástico e proteína
Madeira e olhos de menina
Aliás eram três moças
Pequenas quase da minha idade
Uma hoje é uma rainha
A outra fundou uma cidade
E tem aquela que é musa
Da música do futuroje
Lembra das histórias do tio
De fantasma do disco voador
Depois da janta quem comesse
Tinha direito a melado com
farinha
E eu não sei se você lembra
Conversando nas cadeiras
Na frente da sua casa de noite
As estrelas eram zilhões
E havia sempre uma caindo
Um meteoro no céu
A avó com olhos grandes
Por trás dos óculos grandes
Ela parecia minha mãe
Quando ficou da idade dela
Fazia uns biscoitos deliciosos
De sal amoníaco
E falava com a estampa
E a heráldica dos nobres
Da nossa ascensão
De seu pai louro espanhol
E sua mãe guarani
Este poema é pra você
Prima que é mãe também
E pra minha mãe Percília
E pra sua mãe Dejanira
E nossa avó Adriana
E a nossa bisa Guarani
Pra toda nossa família
Nossa tralha, nossa trilha,
Pra ela pra mim e pra ti
Versos
v uma le
tra que traz
várias possibilidades vaz
veloz verocapaz velocipedeveraz
etc etc etc
depois do mero fonema que já é
no sentido cosmopolita/cósmico
macro e micro
temos a sílaba a lábia sábia da baba
do som que escorre da luz dos olhos
quando olham pra moça que gostam
tipo tudo de bom
e eu sigo e eu consigo e eu comigo
digo
ve
depois a gente constrói igual criança
somos crianças na esperança
menino e menina guri e guria e o guru
vem e fala pra nós eu e você
o mitema o pensamentema o morfema
que é como se fosse um ideograma
escrito num papiro enrolado na garrafa
em garranchos elegantes elefantes
e girafas
garrafas feitas de fitas
galochas grama rama lama e fama
feito fótons hieróglifos egípcios
igual o eu e você o menino a menina
brincando com tijolos fictícios factuais
fractais atuais astrais astoriais mas
reais e com eles construindo castelos
essa brincadeira de engenheiros
e químicos e magos alquimistas e martelos
e príncipe e princesa anões bruxas cavalos
tudo isso nas pecinhas de madeira ou plástico
assim são os morfemas
e eu venho até você e falo
ver
depois estou com sono mas não estou cansado
de brincar de usar a mágica máxima que é a
lógica interestrondosa e luminosa da fala
mas eu simplifico porque o poema está ficando
enorme
mas é claro que tudo nesse fundo é relativo
ao mundo macrocosmos microcosmos nosso umbigo
e o cordão que nos liga a isso tudo
e completo a palavra?
escrevo/penso/pronuncio:
versos
era isso que eu queria dizer meu amigo
eu e minha amiga você
basicamente os universos e a mão do bebê
e os olhos não podemos esquecer os olhos
de quem quer olhar e ver e vem e vê
versos
Agora, já
Anja no nome, angélica na cara –
E eu posso ver seus olhos e a sua alma
E eles são meigos, mas ferozes, cara,
E ela é clara, bela e fera na palma
Da mão do furacão, com toda a calma
E o tambor da canção que soa rara/
Clara no céu do coração, com a alma
No ponto ao pé, e eu quero vê-la, para
Poder dizer que sintetizo, vejo
Os seus lábios nas fotos do amanhã
E tudo que eu não digo mas desejo
Dizer para você, vulcão: cunhã
E mãe mescladas num ser, cujo beijo
É doce aroma e é sal: sol da manhã
Seres etéreos
São seres feitos antes de tudo de antenas
Como se fossem insetos ou flores ou televisores
Esses seres servem pra trazer uma onda de energia boa
Pra toda a terra
E mesmo assim
Chamam de ETs
E dizem coisas
Como se fossem robôs, quadros coloridos,,,,,,
Lousas lusas,
E luzes de todas as cores
Seres bons
Retro/versão
O globo é o que há de forte
Ameno apache lindo e louco são
Ameno apache lindo e louco são
A globo é tudo de malsão
Tudo que te vampiriza e te faz fraco
Tudo que te vampiriza e te faz fraco
Então um é uma ponte e um monte
De saber e poder
De saber e poder
A outra tira tudo que você tiver
E aí, o que você quer?
E aí, o que você quer?
Brasil com S (Brasil
written with S)
My foreign friends
Think my land is the
paradise of fools
Of folk dances
Sex tourism
And total alienation
The occupied land
The land sold
Always an offer
On the market
Well
Maybe they are right
But this is not my
country
My Brasil is too rich
It’s great, it’s
beautiful
That has strong, smart
And happy people
Even though this country
exists in my soul
In my mind
And in my heart
This is real
Injornal
Eu: Descobri que a moral vigente tácita
Introjetada na mídia tipo filmes
O homem do futuro efeito borboleta
Et caterva
É que o passado não se pode mudar
Se mudar dá zebra
Você: Ela continua sendo a mesma
Pessoa que nunca foi e seu cinema
É algo pra se ver admirado
E vemos que vamos do seu lado o eterno lago
E várias açucenas e falenas
Eu: Comprei um novo livro de Confúcio
E leio todo dia ele pede paz
E alegria guerra e fantasia
Agenciou-se ao mestre da montanha
É um zero à esquerda
Ou pura poesia
Você: Tem uma fonte enorme de energia
Agora descobriu que o tempo é mágico
E tudo pode mudar basta um olhar
Na folhinha da árvore infinita
E bonita do cosmos
A árvore da vida
O futuro o passado e o presente
Tudo está vivo e muda de repente
Se assim a gente quiser
Mas quiser mesmo
Sonhos de ouro
Sol
Sobre as construções
Orientais e os caminhos
Delicados jardins de pedra
A arte de cerimônia do chá
Sobre as construções
Orientais e os caminhos
Delicados jardins de pedra
A arte de cerimônia do chá
Lua
Sobre os pagodes e os olhos
E as canções que enchem o ar
Ao vê-la sinto-me um samurai
Um homem de negócios
Um cantor de rock coreano
Sobre os pagodes e os olhos
E as canções que enchem o ar
Ao vê-la sinto-me um samurai
Um homem de negócios
Um cantor de rock coreano
Sol e lua
Ao mesmo tempo como se fosse
Possível o ocidente e o oriente se encontrarem
No sonho que se torna realidade
E na verdade
Cor de jade e de marfim
Andando pelo jardim, sonhos de ouro
Ao mesmo tempo como se fosse
Possível o ocidente e o oriente se encontrarem
No sonho que se torna realidade
E na verdade
Cor de jade e de marfim
Andando pelo jardim, sonhos de ouro
Sem stress
Nem outras palavras estranhas
Sons que vêm da confusa
Sensação do mercado
Como um bando de malucos
Gritando sem parar
Ouça o silêncio
E você vai entender
E se tivermos sorte
Você vai compreender
E aí se tudo conspirar
A favor deste fervor
Você vai responder
Porque vai querer
Responder
E vai querer
Me fazer saber
O que eu quero saber
De você
intv atômica
Como uma simples emissora de televisão
Pode destroçar assim uma nação?
Como Nelsinhomotinha fala besteira
Tu não tem ouvido não meu chapa?
Ou ouve com o bolso
No estilo de desdém pelo talento
Da emissora de tv que os compra pra desmobilizar
Embrutecer, queimar, dispor, aguar?
Dizer que a Janis Joplin era emoção mil
E técnica zero
Quem é você, meu amigo?
De que boteco dos sentidos saiu o seu olvido
Estou falando no sentido de esquecimento
De algo que é muito mais de que o talento
E todas as globos do mundo com suas bombas
De audiência e ultra hiper emburrescência
Nunca vão desmobilizar
Por mais que queiram e tentem
O tempo todo ferozes sem parar.
Janis Joplin foi mais do que um cometa
Um meteorito, um papagaio ridículo do sistema
Que esses caras aí tanto querem ser
Janis Joplin é uma deusa da pura beleza
Um furacão de alegria e rebeldia
A força da magia da poesia
Encarnada na voz de uma mulher
Uma moça esquisita
Meio feia, meio selenita,
Um axé, um et,
Uma criatura mais linda que a mais linda
A mais bonita a mais bendita a mais maldita
Não, Joco Mocó,
Ela não teve sucessoras
Nem nunca terá
Não, Jaca Fulana
Que pensa que poder é perna, é seio,
É clone, é cama
A Janis é feita de pura magia
E de prazer
A Janis é a voz da vida vibrando pelos bosques
Na infinita alegria de se ser
A coisa mais linda do mundo
O que se é
Bocas
Sinto sua saliva
Em minha boca
Por que diabos
Eu sinto a sua saliva
Em minha boca?
Essa é boa
A salva de palmas
A salva de prata
O amor que salva
E que pacifica
A sua saliva
Em minha boca
Eis minha delícia
I feel your spittle
Inside my mouth
Why the hell
I feel your saliva
In my mouth?
This is good
A round of applause
The silver plate
Love that saves
And makes peace
Your saliva
In my mouth
That’s my delight
Poema
A ponta do arco-íris firmada na chuva
De medos e ódios e tudo que te perturba
Mas não duvide, deslize
Nessa natureza imperfeita, que diz e faz
Tudo através de você, e sabe mais
E menos que a gente, e, no entanto,
É tão perfeita e bela, na sua transparente
Imperfeição. A outra ponta do arco está
No tesouro infinito do seu coração
Que sabe e salva,
E fala e diz, feliz
A vontade de ferver
Deita no tempo
Como se o desejo já sendo uma lente de câmera
Que você edita como bem quiser
Ou como sendo o leito
De uma confortável cama
Chamada corpo da mulher onde me deito
Pra poder padecer
De desejo
Sem parar
Um beijo
E um esgar
Pronto
Agora o fogo está congelado
E eles podem dormir
Mas ao dormir vão sonhar
E ao sonhar vão sentir
De novo o desejo
Um esgar e um beijo
E aí de novo
Tudo quer
Recomeçar
des/troços
the mermaid and the
sailor
the sea was made for sail
the feelings are meant to be
ours
Norte e sul e leste ou west
Ela é todos os cantos
the sea was made for sail
the feelings are meant to be
ours
Norte e sul e leste ou west
Ela é todos os cantos
Pontos de todos os santos
Que possas querer cantar
E vai pra todos os lados
Os quadrados viram círculos
Que possas querer cantar
E vai pra todos os lados
Os quadrados viram círculos
Cinco círculos concêntricos
Espirais de pura energia
Espirais de pura energia
Oura a praia em fronte ao mar
São os pontos
/cardeais
Somos amigos
/cordiais
Somos cantores quais
/pardais
Ela é a rosa
Ela é a rosa
dos
ventos
Ela é o quinto
Ela é o quinto
elemento
E que se traveste
E que se traveste
dos
quatros
Amiga ou sequer conhecida
Uma grande avenida
Amiga ou sequer conhecida
Uma grande avenida
Chamada chama da vida
De luz reluz ao olhar
Seu nome vem da rosa dos ventos
Mas ela vem do centro
E me alimenta
É a terra o fogo a água o ar
E o possante sentimento
E o elo
Em toda parte
Seus sorrisos são ovos estrelados
Estatelados mesmo
No meu céu
No aterro do flamengo
Do fluminense do vasco
E botafogo na alma
Sua aura é gesta e acalma, aclara, calma
Dona minha, do meu ardor senhora, quando eu for
Vou voltar o meu corcel, pra
Ver a moça na janela
Eu vou levar-lhe um verso
Um único verso só no universo
Pode dizer
Se quiser
De luz reluz ao olhar
Seu nome vem da rosa dos ventos
Mas ela vem do centro
E me alimenta
É a terra o fogo a água o ar
E o possante sentimento
E o elo
Em toda parte
Seus sorrisos são ovos estrelados
Estatelados mesmo
No meu céu
No aterro do flamengo
Do fluminense do vasco
E botafogo na alma
Sua aura é gesta e acalma, aclara, calma
Dona minha, do meu ardor senhora, quando eu for
Vou voltar o meu corcel, pra
Ver a moça na janela
Eu vou levar-lhe um verso
Um único verso só no universo
Pode dizer
Se quiser
All long the way
seeing pix, it’s just
impossible to say how many colors
and there’s a very good
reason the things are this way
yes you are the rainbow
girl aka the mermaid between the waves
and your feelings and
thoughts are so colored that we can say
that it follows the day
and remains remaining being so
along the way
the long way
the long way
Eu sou assim
As pessoas isso quer dizer nós
Vivemos num tempo quente
O que quer dizer inflação
E zoação da gente
E eu que sou romântico
O que é ser romântico
O que adianta ser romântico
Querida que eu quero e requero
E fico aqui nessa lareira frita
Do computador com uma dor
E uma fritada de elétrons que não
Querem dizer nada e não dizem
E outros efeitos do universo elegante
Que quer dizer – às vezes – quântico
E – sometimes – capitalista
E eu que sou um pastor mas não sou simplista
Sofro por ser romântico
Mas sou feliz também
Meu bem
Por ser assim
Romântico
Como o ser
Do cosmos
Romântico
Como seus olhos que brilham como sóis
Romântico
Como nós
Romântico como eu sou
Eu sou assim
Beijo no pescoço
Amanhã eu sonhei que ela vampiriza
A minha vida igual a ontem e hoje haja
Amor porque ela está aqui na minha
Frente
E é muito mais valente e possessiva
Muito mais intrigante e cobra naja
Ela é uma mira e uma atiradeira
Um ser andrógino e ao mesmo tempo
A súmula o supra sumo feminino da mulher
Ah como eu a quero e se ela me quiser
O resto que se exploda eu sou sincero
Que vá pro inferno a copa e a política
Brasileira eu só quero a mais brasílica
Criatura gótica que existe
E a vontade insiste
Me faz que diga
Um beijo
No seu pescoço, vampira
Pai
Olha a alegria do samba
Do funk e do rock’n’roll
A beleza da vida está na vida
Em cada pequena coisa
Que enche a gente de energia
Se você pensa que não deu certo
E fica triste num canto
Ouça o seu próprio canto Luís
E entenda de uma vez: a vida
É uma moça que gosta de ser
Conquistada com elegância
Amor e constância
Ela gosta de ver que você
Não tem dúvida ou receio
E sabe bem ao que veio
Esse é o segredo, meu filho,
Ouça seu pai, que também
Se chama pelo seu nome
E que quer te ver
Feliz
Medocê
Antes de dormir sonhei com você
Pequena branquinha com seus óculos escuros
Sempre escondendo seus olhos inseguros
E cheios de vontade de fazer e acontecer
Seus olhos
Uns terremotos maremotos tsunamis
Dois ciclone dois poços do petróleo do futuro
Essas fontes de luz que brilham mais
Que tudo e mais que o tudo que há no tudo
Outros vampiros se escondem do espelho do sol
Porque brilham mal
Você não precisa se esconder de dia, querida
Porque a sua luz brilha toda na pura luz da lua
E na cascata de raios cósmicos que perdura
Desde que o universo nasceu e antes até
Eu digo mas eu dizer ou eu sonhar esse sonho diurno
O tempo todo que importa se eu estou aqui agora
E você está aí do outro lado do mundo do querer?
Moça vampira, eu aqui fico olhando com/sem
Medo pra você
Canção pro perfil da moça no face
Queria falar do chão do céu do
ar
Da água que não para de mudar
Do fogo que não para de mexer
Do caosmos que não para de criar
E quer fazer
Queria te dizer tanto coisa
caosmovido
Mas fico sem sentido quando
perto de você
Então pra não dizer que eu não
lhe digo
Tudo que eu diria ou poderia
Eu faço um concentrado de
sentido
E desejo
Bom dia
Pra você
Quico y chica
Vamos hablarnos ahora?
Hacer la copla cantada
Con la música del ánimo
Y la poesía mirada?
Con la guitarra en la
mano
Y el cielo en mi mirar
Quiero cantar con usted
Te conocer, te encantar
Chica que habla con los
ojos
Y con los sueños que
tengo
Contesta mi verso ahora
Habla con mis
pensamientos
Pues eso quiere decir
Que el gaucho que se
enamora
Con su vigoela en la
noche
Ni sabe si canta o llora
Versos
The
work progress
A obra
progressa
Mesmo se esse verbo
Não exista em português
Veja você: o verso
Agora insiste
Resiste
Persiste em ser
Quer vir a ver
Quer nascer
Será no nosso universo
Um amontoado de versões
E canções
Ao reverso ou inverso
Tudo imerso
No mais profundo
Do fundo do mundo
Das boas sensações
Esse livro ivre e livre
E feliz
Corpo e luz
Mãe
Um tempo pra plantar um tempo pra colher
Outono inverno primavera e então verão
As marés se sucedem como as lunações
E tudo que você olhar é sempre algo inédito
O tempo muda tudo adora se esmerar
Em criar em fazer em correr em gerar
E fez de uma menina que brincava de bonecas
Uma moça linda que também se tornou mãe
Ser mãe é ser a filha do tempo e poder entender
Como ele dá à luz e cuida de cada criatura
Ao ser mãe uma mulher sempre fica mais bonita
Mas no seu caso à beleza se soma essa doçura
Esse seu jeito meigo e mágico ao mesmo tempo
Tudo que você tem de seu e o pensamento
A moreninha
O sol no céu
A lua no mar
Em cada segundo um mundo de
olhar
A chuva é choro o sorriso é a
brisa
E a cada vez que olho <ela
fica mais bonita
O arco-íris nos seus olhos
Um rubi na sua boca
Tantas belezas na ilha
Em que conversamos a toa
Onde antes jorravam falas
Versos brincos de princesa brindes e máscaras
De uma festa que passou
Agora é tudo quieto
Não há quase conversa
Ainda a mesma fonte
Jorra com calma pra fingir
Que já secou
Ela escuta a gruta e as pedras da caverna
A cavaleiro em cima do mar
Meu barco chega na ilha
Quero falar com ela
E venho conversar
Meu Deus
Estamos em pleno carnaval do Rio
No século 21
E eu aqui vivendo um clip
Do romance A Moreninha
Tudo por causa de você
Moça-mistério
A Ilha 2
Lê-la pelos pelos
Sabê-los
E encontrar seus sonhos
Pelo meio
Lê-la pela pele
Pela pálida epiderme
Que gela e fica quente
De acordo
Com a gente
Lê-la pelos olhos
Que me olham belos
Como quem fala em guerra
E paz
Uma guerra e uma paz diferentes
Mas sempre
Poder ler sua mente
E o seu sentimento
Tão forte e tão quente
Que anima toda a ilha
Secreta
Da gente
Metalinguagem
O amor tem razão
E tem sentimento
Ele não tem pressa, ele sabe esperar
Como cantou tão bem aquele sambista
Cujo nome agora não quero lembrar
Abro a garrafa de vinho
E encho a tua e a minha taça
Vamos brindar, querida!
A um tempo mágico e secreto
Que pertence só à gente
Quem rouba o ladrão?
Quem guarda o guarda?
Quem julga o juiz?
Quem vigia o vigia?
Quem governa o governo?
Quem cria o criador?
Quem ama o amor?
A verdade sobre a mentira
As pessoas são felizes em Helsinki
Lá todo mundo é igual perante a lei
Não há divisões entre os seres humanos
E a neve cobre tudo de várias cores brancas
No frio que faz mas tudo bem
As pessoas são felizes no Brasil também
Porque mesmo sendo diferentes de todos
E entre nós mesmos também
E sendo nossa neve confeito de bolo
E merengue
A gente tem a felicidade na palma da mão
Na cara, no olhar, na alma, na palma e
No coração
As claras sementes do sol
Quando passeio pelo mundo ou
pelo meio obscuro mas muito claro demais
Mundo dos versos dela eu me
sinto no meio de um mundo puro e ao mesmo tempo
Mentalizado como se tivesse sido
projetado no oco do mundo e no meio da paz
E usando como modelo o
pensamento mais terno aquele que nasce no meio do campo
Que fica entre o pensamento e o
sentimento. Esse mundo obsclaro e no entanto futurossado como tudo no mundo
mais muito pleno
Que está na imensa plantação de
coisas pra ver pensar ouvir eu ouvi quando li ou vi o que havia ali e assim
fiquei sabendo-o
Fluir
Eu fiz uma canção no violão na
verdade cantava
Pensando num passeio pela
floresta do planeta
Mesmo que sejam palavras as
árvores e plantas
Palavras elas valem a pena se a
gente puder andar
Pelo meio delas e conversar
nossa conversa sem fim
Você já reparou, mulher, que
essa nossa conversa promete se
Prolongar?
a metafunção da poesia
Eu vou contar pra você
A senha do sonho é esperar
Pelo dia pela hora pelo momento
Certo aquele incerto e insabido
No qual seu pensamento vai poder
E querer encontrar meu
pensamento
E os dois juntos vão fazer um
sentimento
E tudo vai fazer sentido mesmo
que o evento
Hoje paire no vento sem ruído
moto perpétuo
Se você ficasse lendo e exclamando
toda vez que o verso
Brota no meio dos espirros e
alergias desse mundo
Ah isso seria uma transmutação
Uma multiplicação do bom
A verdadeira alquimia
do Coração
e aí então Eu faria
poesias pra você sem parar pela noite
e pelo dia pra Você assim
poder espirrar flores e pedras
preciosas e meio as pérolas e rosas da
genuína
algaravia
você então entenderia
que a alergia se transforma em
Alegria
e a noite vira dia
E tudo fica
Com
poesia do hoje
se eu fosse um versejador
talvez encontrasse rimas e rimos mais facil
mente
mas sendo um poetacientista químico pesquisador que sou
eu suo a mente e uso a semente
como forma de piração, de ins
piração e de trans
pir/ação
(isto é, id est a ação do fogo, logo)
e sendo assim faço poesia todo dia
o que não significa que não seja poesia
ou que não seja sentimento o nutriente
que alimenta esses meus versos
de repente
Poética
Não peça desculpas nem se explique
As pessoas só entendem o que querem
Eu fiquei falando o que é poesia como funciona
Mas as pessoas apenas veem o que querem
E ouvem o que querem ouvir
Isso não me faz desanimar
De ser um circulador de ar de pensar
Um procurador um interventor um inventor um
gestor
Um presidente universal do mundo do que ensino
Pra mim mesmo e de sobra as pessoas aprendem
Consigo mesmas quando querem e ouvem e veem
O que não querem mas que está ali a sua
frente
Brilhante com essa luz que cega e aí você
Vai citar aquela novela manjada que fala
Na cegueira branca e eu afirmo o quanto
Toda a literatura é um pouco de água
Na pegada de um bezerro mesmo se você
Considerar os grandes dos grandes
É tudo tão pequeno nós e nossas metáforas
Como pode alguém querer falar ensinar
Escrever pensar que transmite algo
Quando as pessoas são cegas de tanto ver
A sua própria beleza e sua própria feiura
Nas paredes de espelho do seu quarto de
cabeça
Do qual só saem quando dormem mas depois
Esquecem que foi tudo uma peça mas sem graça
Ou com graça e essa parte – igual a todo o
resto
Depende mesmo no duro é de você
Eu
Eu não acreditava mesmo em
transmigração
Eu expulsei Platão da República
E não tive pena
Porque ele é um chato de galocha
Todavia depois de tudo que eu vi
e li ontem
Agora eu tenho certeza
De que a alma existe e insiste
E eu sou a reencarnação
De Homero Hesíodo Heráclito
Virgílio Horácio
Petrarca Camões Shakespeare Cervantes John Donne
Goethe Novalis Nietzsche Herman Hesse cummings
Fernando Carlos Paulo Cassiano
Manuel
Sem poesia nem metáfora,
Esse sou eu
Nós
prometeu nos deu o fogo
pra olharmos pro mundo de um modo
mais abrangente uma estrutura intersemiótica candente
e intrinsecamente diferente mas no entanto
cheia de razão e mais urgente
também
isso é ruim?
isso é bom?
o logos do noûs da enteléquia do íon
nos faz entender que estamos aqui
pra viver esse bom dom de estar
e ser assim como ele mesmo
nos colocou aqui pra ser
mos
mos